Páginas

5 de maio de 2010

O último playboy

"Elas vinham até mim". Foi assim que Jorginho Guinle (1916 - 2004), quando esteve pela primeira e única vez em Porto Alegre em outubro de 2000, explicou como conseguiu manter casos amorosos com algumas das mulheres mais belas e desejadas do planeta. A declaração, feita em voz baixa, não continha nada de presunção. Afinal, durante décadas, Jorginho Guinle se acostumou a ser o centro, o ponto de convergência, dos mais ecléticos grupos.

Em um século marcado pela efemeridade, pelos 15 minutos de fama, Jorginho Guinle resistiu com charme e elegância à toda decadência de uma vida social da qual ele foi um dos protagonistas. Último remanescente de uma legião romântica de cafajestes nacionais (Mariozinho de Oliveira, Ibrahim Sued), internacionais (Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Dean Martin) e genuínos playboys (Porfírio Rubirosa e Ali Khan), Jorginho Guinle foi um mestre em ter um estilo de vida que privilegiava a cultura, o glamour e o hedonismo.

Discreto, Jorginho Guinle pouco falava dos vários romances que teve durante sua vida. Mas sabe-se do seu envolvimento com Jayne Mansfield, Kim Novak, Romy Schneider, Rita Hayworth, Anita Ekberg, Lana Turner, Ava Gardner e Marylin Monroe – está última quando ainda ela era Norma Jean e que Guinle conheceu em 1947 na casa de Alfred Bloomingdale, dono da cadeira de lojas .

Nos anos 30, 40, 50 e 60 não foram poucos os astros que vieram ao Brasil – de graça – apenas atendendo a um convite do playboy, que abria as portas do Copacabana Palace. Sua lista de amigos era um who's who da política, dos negócios e das artes, aí incluídos os Kennedy, Judy Garland, Orson Welles, Ella Fitzgerald, Nelson Rockefeller, Howard Hughes, Dizzy Gillespie, Liza Minnelli e Tony Bennett. Jorginho Guinle fez mais pelo turismo brasileiro do que todas as embraturs da época.

Herdeiro de uma fortuna que incluía hotéis, navios e comércio de café, Jorginho Guinle soube dar ao patrimônio o destino que merecia. Sempre gastou muito e se divertiu mais ainda. "O segredo do bem viver é morrer sem um centavo no bolso. Mas acho que errei o cálculo", dizia, ironizando a própria sorte e o fato de ter sido tão longevo. Nunca trabalhou. Entre as atividade que ficariam na fronteira entre o trabalho e o prazer, Jorginho chegou a escrever algumas colunas e lançou o livro Jazz Panorama, escrito no final dos anos 50 e pioneiro na análise da música americana feita por um brasileiro.

Quando lançou o livro de memórias Um Século de Boa Vida fez uma balanço de 70 anos de vida social e reduziu sua importância no jet-set internacional declarando "levei uma vida modesta". Modéstia.

(Márcio Pinheiro)

Nenhum comentário: