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6 de maio de 2010

Eu quero é botar...

Maldito entre os malditos, Sérgio Sampaio sempre esteve à margem, mais até do que alguns de seus contemporâneos que nunca foram bem aceitos pela indústria fonográfica como Jorge Mautner, Jards Macalé e Luiz Melodia. Este último, inclusive, foi o responsável por algumas homenagens ao compositor capixaba ao regravar Cruel e Que Loucura!

Seu desvio artístico era claro e pode ser resumido por uma história emblemática: em 1978, Sampaio se apresentava no Teatro Opinião, no Rio. Quando cantava a música Pobre Meu Pai, um gato preto, que morava no teatro, colocou-se a sua frente e só levantou quando a música acabou. A história entrou para o folclore musical e o próprio Sampaio fazia questão de espalhá-la para exaltar as tragédias e os azares de sua vida.

Artista autodidata e intuitivo – "Músico é Hermeto, Egberto. Eu não sou. Toco no violão como quem toca no corpo de uma mulher sem saber as zonas erógenas", explicava –, Sampaio sempre fez questão de viver na periferia artística. Costumava encarar o fracasso quase como uma filosofia de vida e, às vezes mesmo de maneira amarga, gostava de brincar com o próprio insucesso.

Conterrâneo de Roberto Carlos – os dois nasceram em Cachoeiro do Itapemirim –, Sampaio chegou a flertar com o sucesso com a explosão de Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua, marcha-rancho com levada pop que trazia na letra um acento de protesto. A canção se transformou num dos maiores hits de 1972 e, na época, ele chegou a ser apontado por uma revista como sucessor do Rei. Debochado, Sampaio apressou-se em ridicularizar qualquer comparação, mandando o seguinte recado em Meu Pobre Blues: "E agora que esses detalhes / Já estão pequenos demais / E até o nosso calhambeque não te reconhece mais / Eu escrevi um blues/ Com cheiro de uns dez anos atrás / Que penso ouvir você cantar".

Apesar da iconoclastia, Sampaio nunca se recuperou de ter perdido a efêmera fama passando a ter nas duas décadas seguintes uma carreira inconstante, quase sempre atrapalhada pelos problemas alcoólicos e pelas internações. Morreu no dia 15 de maio de 1994, aos 47 anos, vítima de uma crise de pancreatite.

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