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30 de abril de 2010

Black Tiger


Foto reproduzida do site Carangos e Motocas
Quem, como eu, tem mais de 40 anos e um certo espírito easy rider um dia sonhou em ter uma bicicleta Monark Tigrão. Lançada em 1972, a Tigrão era claramente inspirada na Schwinn Stingray e foi um sucesso instantâneo até pela pálida semelhança que tinha com a moto pilotada por Peter Fonda em Sem Destino.

Ainda hoje, a minha preferida é a Black Tiger (toda preta, com banco forrado de imitação de pele de tigre). Um clássico absoluto.

29 de abril de 2010

Boa dose


Literatura e álcool combinam. Para o bem e para o mal. Bebidas inspiraram grandes obras, assim como autores foram destruídos pelo alcoolismo. Mas como a proposta dos criadores  do Guia de Drinques dos Grandes Escritores Americanos (Editora Zahar) não é fazer um tratado sociológico, o que surge desse coquetel é uma criativa mistura de bebidas e bom humor.  Foi numa conversa de bar (onde mais?) que Mark Bailey teve a ideia de fazer o seu guia dos drinques. Assim, ele misturou pequenas histórias de grandes nomes da literatura dos Estados Unidos com seus drinques preferidos. 

Só tem craque: cinco deles ganharam o Nobel de Literatura e 15 conquistaram o prêmio Pulitzer. Um exemplo: Truman Capote, um bebedor profissional que se refrescava desde as primeiras horas da manhã com um drinque a base de vodca, suco de laranja e muito gelo. A bebida estava tão presente em seu cotidiano que Capote  se referia à profissão como uma longa caminhada entre um drinque e outro. 

O meu drinque preferido? É o mesmo de Jack Kerouac, a marguerita.

Nove mais


Chico Buarque é sempre lembrado por Construção, Roda Viva, Pedro Pedreiro, Olê Olá, Vai Passar, Cálice, Pedaço de Mim... 

Aí vão nove músicas de Chico Buarque que não são consideradas clássicas, mas deveriam ser:
  1. Bancarrota Blues
  2. Corrente
  3. Desalento
  4. Embarcação
  5. Mar e Lua
  6. Mil Perdões
  7. A Noiva da Cidade
  8. A Rosa
  9. Uma Canção Desnaturada
Qual é a tua lista?

28 de abril de 2010

Música para Capote

Em Uma Criança Linda, Truman Capote recorda o encontro com Marilyn Monroe – que aparece dançando com ele na foto de capa da edição brasileira mais recente de Música para Camaleões.

Um belo complemento é a matéria publicada na edição de ontem do jornal El País, da Espanha. O texto lembra as férias que o autor passou lá há quase 48 anos, quando ficou sabendo da morte de sua amiga.

Cavalo paraguaio

Durante muito tempo, El Grafico foi uma de minhas revistas preferidas. Deixei de comprá-las com a mesma periodicidade que comprava há dez, 15 anos, mas ainda mantenho centenas delas e frequentemente me atualizo a respeito do futebol argentino lendo a edição online.

No site, uma das melhores seções é a que reúne grandes fotos de todos os tempos. Esta aqui mostra o goleiro paraguaio José Luis Chilavert, na época defendendo o Vélez, na semana em que converteu seu primeiro gol num tiro livre, em outubro de 1994. Vestir uma roupa de general, o goleiro topou. Convencê-lo a subir no cavalo foi impossível.

27 de abril de 2010

Meu nome é Jards

Homenageado recentemente com o documentário Há um Morcego na Porta Principal, Jards Macalé é um dos artistas mais difíceis e incompreendidos da MPB. Entra tantas fases, a minha preferida é a dos anos 70, quando com o disco/manifesto Aprender a nadar Jards Macalé e Waly Salomão lançaram uma nova proposta estética: a "morbeza (morbidez + beleza) romântica".

As bases da "morbeza romântica" se estruturavam na dor-de-cotovelo, na cornitude – como explicou Augusto de Campos –, e nas composições de Nelson Cavaquinho e de Lupicínio Rodrigues – ou "Lupicínico" como era definido por Macalé e Waly Salomão. Era uma espécie de fossa traduzida pelo tropicalismo. Um estilo que não perdia a ironia, a capacidade de rir de si mesmo, como comprova uma faixa do disco – Real grandeza é uma rua no bairro de Botafogo onde se localiza um dos mais conhecidos cemitérios do Rio.



Macalé e Paulo José interpretam texto de Torquato Neto.

Alma dividida

Divided Soul é o nome do livro escrito pelo jornalista David Ritz, relato cru e intenso da vida de um dos maiores músicos do século 20. O título tem duplo sentido - usando o "soul" tanto para remeter ao estilo musical quanto para ressaltar as angústias e turbulências da personalidade de Marvin Gaye -, uma alma marcada (e dividida) em partes quase iguais de sucesso e sofrimento.

Foi também num abril, o de 1984, na manhã do dia 1º, o Dia da Mentira, que Marvin Pentz Gaye Jr. foi assassinado com dois tiros pelo próprio pai. No dia seguinte, Marvin completaria 45 anos.



Marvin Gaye em ação onde melhor se mostrava: no palco. A gravação é de 1976.

26 de abril de 2010

Memento

Criei fama de ter boa memória. Bondade dos amigos. Minha memória até que é bem acima da média – embora só há pouco tenha me dado conta disso – e talvez por isso mesmo não tenha causado em mim o deslumbramento que muitas vezes causa nos outros. Primeiro, porque sempre achei que memória não é um dom, apenas uma capacidade de saber organizar datas, idéias, projetos e sugestões. Logo, algo acessível a qualquer um. Segundo, porque sempre dei à memória o tratamento que ela merece: minha desconfiança – e daí criei uma segunda fama: a de guardar papéis, jornais, revistas, discos, gravações e qualquer outro material que julgue que um dia poderá me ser útil. Isso fez com que meu quarto (quando ainda morava com meus pais) e minhas casas se transformem em museus dos ácaros.

"Difícil não é escrever, difícil é tomar nota". Captei essa citação agora (de cabeça) para me socorrer. É do Ivan Lessa e diz muito sobre a atividade que exerço. Acredito que o jornalismo, ainda que focado em dados atuais e, muitas vezes, em prognósticos, não pode dispensar a memória. Ainda me espanta o desconhecimento de muitas pessoas sobre fatos que aconteceram logo ali, numa das primeiras curvas da memória, seja com personagens importantes (são pouco os que ainda se lembram de Luiz Carlos Prestes, Richard Nixon, Farrah Fawcett ou Johann Cruyff), quanto de figuras efêmeras (que fim levou a freirinha de Goio Erê? Aquela, pra quem não lembra, que trocou de lugar com um seqüestrado no interior do Paraná e, meses depois, conseguiu ser recebida pelo Papa).

"O Brasil é um país que a cada 15 anos esquece o que foi feito 15 anos antes". Essa é outra citação (igualmente do Ivan Lessa) que também recupero (de cabeça) para comentar uma meia-verdade. O Brasil, de fato é desmemoriado, mas não é um caso isolado. A amnésia é algo quase universal. E antes que me acusem de saudosista ou de ligado apenas em cultura inútil (ah, isso me acusam bastante e até já tenho uma resposta-pergunta pronta: "afinal, o que é cultura útil?") saco derradeiramente uma citação que talvez justifique tudo o que já escrevi até agora: "a experiência com fatos acontecidos pode ter a mesma utilidade que um carro com faróis voltados para trás". Essa é do Pedro Nava.