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8 de julho de 2010

Boêmio anarquista

Carlinhos Oliveira era um cronista que tinha ojeriza a rótulos e dogmas. Chegou a ser chamado de simpatizante da ditadura, embora nunca tivesse escrito uma linha a favor do governo militar e, na época braba da repressão, teve a coragem de abrigar em seu apartamento um militante de esquerda indiretamente envolvido no seqüestro do embaixador Charles Elbrick. Apesar de beber muitos – às vezes até quase de maneira inconveniente – Carlinhos Oliveira não se considerava um alcóolatra – pois o termo, segundo ele, estava associado ao desencanto e à depressão. Preferia definir-se como um bêbado que sabia tirar proveito das alegrias que a bebida proporciona. Era quase um clochard, pouco chegado ao banho e sem nenhum apego material. Nos últimos anos de vida voltou-se para a religião, mas permaneceu um iconoclasta que nem a fé conseguiu demover da incredulidade e, entre tantas definições, ninguém foi tão preciso quanto ele próprio ao se classificar como surrealista por temperamento, anarquista por indisciplina de berço, boêmio por amor à vagabundagem e agregado à elite pensante por acaso".

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