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17 de maio de 2010

José Onofre (1942 - 2009)

O jornalismo cultural talvez ainda não saiba a imensa dívida que tem com Zé Onofre, jornalista gaúcho com larga militância em alguns dos principais órgãos da imprensa brasileira. Amanhã faz um ano que ele morreu. Para lembrá-lo, destaco trechos de um texto que ele fez sobre Paulo Francis, um de seus grandes admiradores.

Paulo Francis: médico e monstro

Paulo Francis inventou no Brasil o jornalismo como espetáculo. Não era a informação, era Francis; não era a opinião, era Francis. Lia-se a coluna de Paulo Francis (1930-1997) sabendo que ela apresentaria um cardápio variado de pratos quentes. Até então, colunistas internacionais e locais dependiam de seu assunto (alguns só de seu texto) para trabalhar. Francis foi tornado ele próprio o núcleo de suas duas páginas semanais, primeiro na Folha de S.Paulo, depois no Estadão.

Ele estava sempre acompanhado de grande elenco: presidentes, políticos, atores, músicos, regentes, criminosos, vítimas, momentos da história, ídolos pop, cafajestes e tantos outros. Mas era tudo filtrado por um olhar cético e o que deveria ser o grande desfile de notáveis tornava-se uma fila de culpados numa delegacia, esperando sua vez de imprimir as impressões digitais e ser devidamente fichados.

Essa ausência da habitual vassalagem ao mundo político e cultural, aos poucos aproximou das páginas de Francis um grupo heterogêneo de insatisfeitos. Cobria todo o espectro: de leitores que estavam frustrados a jornalistas entediados com a mesmice de suas editorias. O caldo engrossou com o desembarque daqueles letrados abandonados pelos segundos cadernos que só tratavam do pop.

Francis tornou-se referência obrigatória, mas não uma unanimidade. Desde o início teve críticos de vários matizes ideológicos. As críticas aumentaram quando ele chegou à conclusão de que o Segundo e o Terceiro Mundo não poderiam criar um modelo próprio e se tornarem alternativas aos interesses das grandes transnacionais. Elas e os Estados Nacionais ricos eram a mesma coisa, faziam o mesmo jogo e suas preocupações sociais eram apenas sobre a melhor maneira de manobrar a força de trabalho.

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